A viagem para o embarque até à Guiné, começou bem cedo no Regimento de Cavalaria 8 em Castelo Branco. Antes tinha havido o desfile de despedida militar à cidade. A urbe tinha-se posicionado nos passeios e olhavam-nos com um misto de tristeza e respeito. A situação não era para menos, face ás notícias que iam chegando, das mortes e feridos nas longínquas terras africanas. O dia estava cinzento. O sol, ainda de inverno, não se quis mostrar, também ele solidário com a ansiedade contida nos corações de cada um, enquanto um nó se formava na garganta de muitos de nós. O comboio partiu, levando a bordo mais uns tantos militares para a Guiné: O Esquadrão de Reconhecimento Fox 8840 e o descrito Pelotão de Reconhecimento Fox 8870. O Esquadrão ia para Bafatá e o Pelotão para a Aldeia Formosa. A viagem decorreu sem qualquer incidente de percurso. O embarque também não. Havia uma escada que pendia do navio Uíge até ao cais de Conde de Óbidos. As pessoas, familiares dos que partiam, aglomeravam-se e esperavam ansiosas pela partida do navio. Os "cavaleiros" de Castelo Branco, partilhavam o navio com mais um batalhão de militares que também ia para a Guiné. Seriam aproximadamente cinco horas e dez minutos da tarde, desse dia 3 de Abril de 1973 quando a escada foi recolhida e dois rebocadores se posicionaram um à proa e outro à ré. Começaram então a puxar o navio para o meio do rio Tejo. Um frenesim de lenços a abanar, gritos, desmaios de quem via o barco partir. Os militares, debruçados na borda do navio, iam também acenando. Um bando de gaivotas alvoroçadas, a piar e a acompanhar o navio, enquanto este ia lentamente ganhando velocidade. Ao passar à imagem de Cristo Rei, soltou duas fortes buzinadelas como a despedir-se por todos os que levava a bordo. Um frémito que se estendeu da garganta até ás entranhas, causou um arrepio até à medula. Foi como o despoletar de um aviso para onde nos estava a encaminhar.
Passado algum tempo, as gaivotas ficaram para trás, enquanto que o navio se embrenhava cada vez mais no mar alto.