Já passavam 32 anos que tinha vindo da Guiné, da guerra colonial. No entanto, ao chegar a data da nossa chegada, todos os anos comemorava e brindava com uma taça de champanhe, à minha e à saúde de quem não via há muito tempo. Sempre tive a esperança de que alguém se lembraria de mim um dia, para me convidar para o encontro com todos os amigos que tive como família na Guiné. Mas era em vão que mantinha essa esperança.
Um dia, ao almoço, com os meus colegas de trabalho, começamos a falar da guerra colonial. Fiz referência de um desses amigos que já não via há muito tempo. Espera lá, diz-me o Telmo que tinha à minha frente. Como se chamava esse amigo? Eu repeti o nome: Chama-se, José Almeida Barbosa. Eh pá, diz-me o Telmo, esse homem é meu primo. Fiquei tão contente como se me tivessem dado na hora uma das melhores sobremesas.
Pedi-lhe que desse o meu número de telefone ao Barbosa para me telefonar. Esse meu amigo assim fez e o Barbosa telefonou-me. Passei pela terra dele, uns dias depois e foi uma alegria imensa quando o cumprimentei. Soube por ele que o nosso amigo de Elvas, o Churra Brita, tinha-lhe escrito uma carta, enviando-lhe assim alguns nomes de quem já tinha chegado à fala e outros que ainda estavam por descobrir os seus paradeiros. O Barbosa ligou dali para o Churra Brita e eu falei para o nosso amigo. Pedi-lhe para me enviar uma listagem da nossa gente o mais pormenorizada possível. Ele assim fez. Passados alguns dias recebi a esperada carta. Este camarada, bem como o Arlindo Costa, ajudaram muito na minha pesquisa.
Entretanto aproveitei numa outra deslocação a Valongo para dizer ao Barbosa que atendendo ao seu horário liberal, uma vez que trabalhava por conta própria, podia assim começar a fazer alguns contactos. Escusou-se e disse: Oh Almeida, eu acho que só tu é que podes fazer isso. Não adiantou dizer-lhe que como comercial que eu era, não tinha tempo disponível para a tarefa que se adivinhava difícil. Mas não consegui demove-lo. Passaram -se assim alguns meses sem saber de mais ninguém.
Um domingo de Inverno, em que a chuva era muita e o frio não era menos, olhei para a carta do Churra Brita e pensei para comigo, é hoje que vou meter os pés a caminho. E se tal pensei, melhor o fiz! Comecei pelos contactos que o Churra Brita já tinha desbravado. Mas mesmo esses não estavam todos funcionais. Não desanimei e fui tentando. Socorri-me da internet e fui pesquisando ruas, restaurantes, cafés, hotéis, residenciais, lojas comerciais, Juntas de Freguesia, Conservatórias do Registo Civil. etc., para através dos números de telefone assim colhidos, chegar à fala com conhecidos, amigos ou família de quem procurava com afinco. Foi um trabalho moroso, mas valeu a pena.
Foi assim que soube da morte de 5 colegas que comigo tinham regressado da Guiné. Dava para ficar bastante triste quando tal notícia recebia. Cheguei a perguntar e a insistir com quem me informava, se tal era verdade. Claro que era, porque se tratava de fonte fidedigna. Foi através das Conservatórias do Registo Civil que obtive essas confirmações.
O José Alves Ribeiro, Tinha falecido de acidente em 1975. Depois a informação de mais 5 falecimentos, a acrescentar à lista de quem não veríamos mais: Manuel Mesquita Torres Almeida, Fernando Duarte Lima, Manuel Ramos Freire, Fernando Esteves Romão e José João Ribeiro, (Valpaços). No ano passado, em Julho de 2010, faleceu também, vítima de doença, o amigo, José Fernando Antunes, conhecido entre nós por Barcelos.
Há um camarada que não consegui chegar a falar com ele, apesar de ter sido contactado pelo consulado português em Montreal no Canadá e este ter dito ao contacto que me falaria mais tarde. Chama-se Domingos Pinheiro da Fonseca. Ainda não desisti. Hei-de procurar trazê-lo até nós.
Tivemos já dois encontros felicíssimos. O primeiro foi realizado em Fátima a 30 de Agosto de 2009. (Fazia assim 35 anos desde a última vez que nos despedimos da farda e destes camaradas no RALIS em Lisboa). Uma emoção indescritível. O almoço e a recepção esteve a cargo do camarada João Sousa, mais conhecido por Fátima, por ser de Ourém, perto desta localidade. O 2º encontro, foi efectuado na Mealhada a 22 de Agosto de 2010, sob a responsabilidade do Horácio Oliveira. Temos o 3º convívio agendado para Elvas, sob a responsabilidade directa do nosso amigo Manuel José Churra Brita, em local ainda a designar, para o dia 31 de Julho de 2011. No entanto, quem pretender, poderá ir de véspera, avisando com tempo para que tudo esteja à altura dos camaradas visitantes. Neste convívio, aguardamos os camaradas que ainda não estiveram presentes em nenhum encontro e que ansiamos por vê-los e que são: Manuel Bento Xavier Cunha, José Lourenço Salvado, Norberto Maria Freitas, (ex-furriéis) João Miguel Lage Oliveira, José Rodrigues da Silva, (ex-1º cabos), Aníbal Gonçalves Barroqueiro,Francisco José Praia Ascensão e Domingos Pinheiro da Fonseca. (ex-soldados)
Criamos um blog que pode ser visto por todos e melhorado por todos também. Para acesso de leitura, basta digitar no Google o nome completo do nosso pelotão. E já está.
(Pelotão de Reconhecimento Fox, 8870)
O convite é extensivo a todos os militares que connosco privaram na Guiné.
Contamos contigo. Contamos com a tua ajuda.
Um abraço amigo e até ás tuas notícias.
António Almeida.